Era um momento difícil para mim.
Eu estava com 5 meses de gestação e, embora estivesse grávida, não sentia alegria. Estava enfrentando uma crise de choque cultural muito forte no Japão. Tudo ao meu redor parecia ruim. Minha casa, o bairro, a comida, as pessoas… Tudo parecia distante, estranho e difícil. Era como se eu estivesse em um lugar onde nada se encaixava.
A tristeza tomava conta de mim, e todos os dias eu chorava, desejando voltar para o Brasil, acreditando que lá tudo seria melhor. Mas meu marido, com sua fé inabalável, me lembrava constantemente de que Deus nos havia colocado ali e que, apesar das dificuldades, nós não iríamos desistir. Ele estava firme, orando e me ajudando a ver além da dor.
Quando meus pais vieram me visitar, tentei focar na alegria do reencontro. Queriam me fazer sentir melhor, e nós passeamos por vários lugares, conhecendo mais do Japão e tentando aliviar minha mente. Mas uma dor inesperada começou a se manifestar. Uma dor intensa na área da minha cesárea anterior, que aumentava conforme andava. No início, pensei que era apenas cansaço, mas a dor persistiu e logo o médico fez um exame mais detalhado. Ele me disse que a parede do meu útero, onde havia sido feita a cesárea, estava muito fina e corria o risco de romper.
Naquele dia, fui internada. O médico falou em duas semanas de repouso para observação, mas, para minha surpresa, acabei ficando internada por quase três meses. Foi um período de luta e resistência, tanto física quanto emocionalmente. A comida japonesa, que era a única opção no hospital, me causava grande dificuldade. Era difícil me adaptar ao sabor e ao paladar. Mais difícil ainda era a solidão. Só podia receber uma visita por dia, por 30 minutos. E, para minha dor, minhas filhas não podiam me visitar, apenas a mais velha, que vinha esporadicamente com meu marido. E mesmo assim, era uma luta imensa conseguir vê-las.
Ver o Lucas se desdobrando em dois para cuidar de tudo em casa enquanto eu estava no hospital partia meu coração. Eu sabia que ficar ali, em observação, era o melhor para proteger nosso bebê, mas, por dentro, me sentia perdida, como se estivesse no lugar errado.
No hospital, dividia o quarto com outras mulheres japonesas. Mas, ao contrário do que eu esperava, não havia conversas ou interações. Era um silêncio constante. Minha barreira linguística me separava ainda mais delas, e as horas se arrastavam entre pensamentos e orações. Às vezes, sentia como se o mundo estivesse girando, mas eu estivesse parada, aguardando. A dor física era grande, e o medo de perder o bebê, ainda maior.
Com 34 semanas, meu corpo não aguentou mais. A dor tornou-se insuportável, e os médicos decidiram realizar uma cesárea de emergência. Pedro nasceu prematuro e foi levado às pressas para a UTI. Quando me disseram que ele tinha uma pequena perfuração no pulmão e precisaria ser entubado, meu coração quase parou. O medo de perdê-lo me consumia.
Apesar da dor, Deus me dava força para continuar. Eu podia visitá-lo uma hora por dia, e, embora aquele tempo fosse breve, era suficiente para renovar minha esperança. Cada vez que olhava para meu filho tão frágil, sentia que Deus estava cuidando dele, mesmo quando tudo parecia incerto.
Aqueles meses foram os mais difíceis da minha vida. Passei por dores que nunca imaginei enfrentar. Mas foi nesse vale escuro que a presença de Deus se revelou de forma mais poderosa. Ele enxugava cada lágrima e me dava a coragem que eu não tinha.
Durante aquele tempo, Lucas se sacrificou de uma forma que eu não podia deixar de notar. Enquanto eu estava no hospital, ele lidava com tudo o que restava. Estava claramente exausto, mas nunca reclamava. Ao contrário, sempre me mandava mensagens de encorajamento, tentando me levantar, mesmo quando ele próprio estava no limite. O amor e a força dele me tocavam profundamente, e eu sabia que ele estava dando tudo de si, sem esperar nada em troca. Isso só me fazia amá-lo e respeitá-lo ainda mais.
Nesse período, meu pai e minha mãe estavam nos dando todo apoio nescessario. Meu pai precisou retornar ao Brasil, e minha mãe ficou para nos ajudar. Sei que não foi fácil para ela, mas sua presença trouxe um alívio imenso. Ela se entregou de todo coração, com um amor tão profundo e generoso que me fazia chorar de gratidão.
Em cada gesto de cuidado dela, eu sentia o amor de Deus sendo derramado sobre nós. Sua dedicação era um lembrete constante de que Deus estava presente, cuidando de cada detalhe, suprindo nossas necessidades e nos fortalecendo. Mesmo no meio das dificuldades, Ele usou minha mãe para ser Suas mãos e Seu coração em nossa vida.
Mesmo distante, meu pai se fazia presente de uma forma tão especial, sempre me enviando mensagens e se preocupando comigo. Todos os dias, sem falta, ele me enviava orações e palavras de conforto, como um abraço através das palavras. Cada mensagem era um lembrete de que, mesmo à distância, o amor e a fé dele estavam comigo, me sustentando. Isso foi tão precioso para mim, um verdadeiro alicerce em meio à dor e à solidão.
Quando minha mãe foi embora, no mesmo dia meus sogros chegaram. Foi um tempo muito bom de cuidado e de matar a saudade. Vimos a mão de Deus todo o tempo conosco!
E, principalmente, foi profundamente importante saber que várias pessoas e igrejas se levantaram em oração por nós. Pessoas que eu nunca conheci ou conversei me enviavam mensagens dizendo que estavam orando. Familiares e amigos próximos também estavam intercedendo. A cada oração, eu sentia uma proteção, como se estivesse cercada pelo cuidado de Deus através de cada um deles. Isso trouxe uma paz imensa ao meu coração, sabendo que não estava sozinha, mas envolvida pelo amor e a intercessão de tantos.
Hoje, quando olho para trás, vejo um milagre. Meu guerreiro, Pedro, sobreviveu e está forte e saudável. A tristeza que eu sentia foi transformada em paz. Deus não apenas me sustentou; Ele usou esse sofrimento para me mostrar que o Japão é, sim, o meu lugar. O que antes parecia estranho e distante agora tem sentido, pois eu sei que Ele me preparou para estar aqui, para viver Sua missão, mesmo em meio aos desafios.
Se você está enfrentando sua própria luta, quero te dizer: confie. Deus nunca nos abandona. Mesmo quando tudo parece perdido, Ele está trabalhando em algo maior. Meu parto, minha dor e meu milagre são prova de que, com Deus, há sempre um propósito, mesmo nas noites mais escuras. E mesmo que a dor não desaparecesse, Deus ja haveria cumprido seu maior milagre em minha vida. Cristo sempre sera a minha alegria, mesmo quando a dor tomar conta. Viver por Ele é o minimo que posso oferecer.